Coisas que São Francisco NÃO disse! (Parte 1)
Tradução própria de um texto curto e interessante sobre as meias verdades que vivem a se espalhar por aí, especialmente na internet. Este artigo visa começar a tratar das coisas que dizem que foram ditas por São Francisco, mas que, para o desagrado de muitos, são inverossímeis.
_____________________________________________
Cristãos usam muitas citações. Os sacerdotes usam-nas em seus sermões constantemente. Escritores ilustram seus pontos de vista com elas. Nada de errado com isso! Elas são bastante úteis e encorajadoras em fazer um apontamento. Salvo quando a citação não tem base na realidade.
Nós, como amantes do Evangelho, afirmando que somos comprometidos com a verdade, somos certamente bons em espalhar falsidades, mesmo que involuntariamente. Nós podemos fazer melhor!
No último domingo, nosso fiel diácono no meio de sua excelente homilia usou uma citação que a maioria de nós ouviu, pelo menos algumas vezes:
“Pregue o Evangelho todo o tempo. Se necessário, use palavras.”
Atribuída a São Francisco de Assis, fundador da Ordem Franciscana, é intenção dessa frase dizer que proclamar o Evangelho pelo exemplo é mais virtuoso que realmente proclamar com a voz. É uma citação que costuma me irritar porque parece criar uma dicotomia inútil entre discurso e ação. Além disso, o espírito por trás de tal questão pode ser um pouco arrogante, o que estou certo que nosso diácono não pretendia ser, sugerindo que aqueles que “praticam o Evangelho” são na realidade mais fiéis do que aqueles que pregam.
Mas, aqui está um fato: Nosso bom Francisco nunca disse isso ou nada parecido.
Nenhum de seus discípulos ou biógrafos tem tais palavras citáveis tiradas de sua boca. Isso não é demonstrado em qualquer de seus escritos. Nem de perto, realmente. As mais próximas disso vem de sua Regra de 1221 sobre como os Franciscanos deveriam praticar sua pregação:
“Nenhum irmão pregue contra a forma e as diretrizes da santa Igreja e se não lhe tiver sido concedido pelo seu ministro[…] Contudo, todos os irmãos preguem com as obras.” (Fontes, RnB XVII, 1.3)
Essencialmente, faz sentido que suas obras estejam ligadas às palavras. Embora haja um belo e bom sentimento na sentença, esteja certo de viver/testemunhar a graça e a verdade do Evangelho, a noção tal qual é tipicamente apresentada não é prática, nem mesmo fiel ao Evangelho de Cristo. Não se coaduna com a própria prática de São Francisco.
Seu primeiro biógrafo, Tomás de Celano, escrevendo três anos após a morte de Francisco, cita-o instruindo seus irmãos, portanto:
“O pregador deve haurir nas orações secretas aquilo que depois vai difundir em palavras sagradas; deve antes aquecer-se por dentro para não proferir palavras frias.” (Fontes, 2Cel CXXII, 3)
Nosso homem claramente gastou grande parte do tempo usando suas palavras quando pregava, “algumas vezes pregava a partir de um fardo de palha ou uma porta de celeiro. Na cidade, ele subia em caixas ou até escadarias de um edifício público. Ele pregou a… quaisquer que se reunissem para ouvir o estranho, mas, inflamado, pequeno pregador de Assis.” Ele era às vezes tão animado e apaixonado em sua entrega que “seus pés se moviam como se estivesse dançando.”
Duane Liftin, presidente emérito da Faculdade de Wheaton, recentemente discursou sobre o problema com a dicotomia pregação/prática num importante artigo. Da pregação do Evangelho pelas obras, ele explana:
“É simplesmente impossível pregar o Evangelho sem palavras. O Evangelho é inerentemente verbal, e a pregação do Evangelho é um comportamento inerentemente verbal.”
E sobre a proclamação de “feitos” do Evangelho também não é bíblica. Paulo pergunta à Igreja de Roma (Rm 10, 14):
Porém, como invocarão aquele em quem não têm fé? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão falar, se não houver quem pregue?
Então da próxima vez que você ouvir de algum de seus irmãos e irmãs em Cristo, use essa citação bíblica para encorajá-lo ou desafiá-lo a trabalhar por nossa fé, gentilmente guiando-os da terra da desinformação e fazendo-os crer na verdade.
Glenn T. Stanton, The Gospel Coalition